Como surgiu o berimbau?
A origem se perde nos milênios, já que o
instrumento nada mais é que um modelo de arco, um dos primeiros instrumentos usados
pelo homem para produzir sons.
Sua
origem se perde na poeira dos milênios, porque o instrumento nada mais é que um
modelo de arco, um dos primeiros instrumentos usados pelo homem para produzir
sons, há quase 20 mil anos. A grande dúvida dos estudiosos, até hoje sem
resposta, é se foi o arco usado para atirar flechas que deu origem ao arco
musical – tataravô do berimbau – ou se ocorreu o contrário. Seja como for, o
instrumento ganhou a forma que tem hoje entre as antigas tribos nativas
africanas. Tudo indica que ele teria chegado ao Brasil já em 1538, junto com os
primeiros escravos. Aqui, ele passou a ser identificado como elemento típico da
capoeira. “O berimbau é a alma dessa mistura de dança e arte marcial, definindo
tanto os movimentos quanto o ritmo”, afirma a historiadora Rosângela Costa
Araújo, doutoranda na USP e fundadora do Grupo Nzinga de capoeira-angola. Isso
não significa, porém, que seu som hipnótico se mantenha restrito às rodas de
luta.
Na
África, ele marca presença como acompanhamento musical de rituais fúnebres – e
no Brasil também foi usado, no século XIX, por escravos recém-libertados para
atrair compradores para os doces que vendiam nas ruas. Apesar do jeitão de
objeto improvisado, o berimbau é um instrumento sofisticado, capaz de emitir
várias sonoridades. Numa roda de capoeira autêntica, ele costuma aparecer em
trio, cada um com um diferente tamanho de cabaça (sua caixa de ressonância).
Quanto maior ela for, mais grave é o som.
Percussão
sofisticada
Para tocar berimbau é preciso dominar seus sete componentesBaqueta
Para tocar berimbau é preciso dominar seus sete componentesBaqueta
A vareta
de madeira, que mede entre 30 e 40 cm, é batida contra a corda para emitir o
som
Dobrão
Normalmente
é uma moeda velha – mas há quem use uma pedra em seu lugar. Ela é segurada
entre o polegar e o indicador da mão esquerda e faz variar as notas emitidas
pelo berimbau, dependendo da pressão que faz na corda
Cabaça
O fruto
seco e limpo da cabaceira (árvore comum no norte do Brasil) tem o formato de
uma cuia e funciona como caixa de ressonância
Verga
O arco,
com cerca de 1,60 m de comprimento, é feito geralmente do caule de um arbusto
chamado biriba, comum no Nordeste
Corda
O fio de
arame de aço bem esticado costuma ser arrancado de pneus radiais
Amarração
da cabaça
O
barbante que prende a cabaça à verga ajuda a passar para ela o som emitido pela
corda
Caxixi
O pequeno
chocalho (com pedrinhas, sementes ou búzios) reforça a marcação do ritmo
ATABAQUE
Assim como o pandeiro, os tambores são instrumentos muito antigos. Difundido na
África, o tambor também aparece em registros persas e árabes. Inclusive o termo
atabaque é de origem árabe. Mesmo com essa ligação africana, acredita-se que o
instrumento já tinha sido trazido por mãos portuguesas quando chegaram os
escravos africanos.
Uma vez aqui no Brasil, o atabaque foi incorporado à cultura afro-brasileira de
uma forma tão intensa que grande parte das manifestações culturais e religiões
afro-brasileiras, se não todas, apresentam o tambor como instrumento musical
marcante. O samba, o jongo, o maculelê, o batuque, a umbanda e principalmente o
candomblé são exemplos.
Em documentário do diretor pernambucano Alexandre Fafe, apresentado
recentemente pela TV Cultura, aparecem velhos e jovens participando de uma
brincadeira que eles denominam Batuque de Inhanhum. Muito parecida com o Jongo,
essa manifestação de origem negra se apresenta em uma roda, onde homens e
mulheres se revezam no centro dançando em duplas, seguindo o som dos
instrumentos tocados pelos mais experientes. No documentário, Inhanhum é mostrada
como uma cidade muito simples, que através de seus moradores, tenta manter viva
a cultura popular da região. Tão simples que o ritmo do Batuque é feito por
tocadores de latas e pandeiros. Os instrumentistas que entoam as antigas
cantigas utilizam latas usadas (de tinta ou óleo) para desenvolver o som. Ao
assistir essa passagem, me veio a idéia do tambor como um instrumento rítmico
totalmente intuitivo. Na verdade, o bater sincronizado das mãos nos mais
diversos objetos (lembrando Sivuca e Hermeto Pascoal) faz ecoar sons, sendo os
tambores construções evoluídas que otimizam assim o som emanado das batidas.
Porém, mais do que um instrumento musical, o atabaque é considerado por muitos
um instrumento sagrado. No candomblé, os atabaques possuem participação
especial, capazes de realizar, junto com os cantos, a ligação entre o mundo dos
homens e dos orixás. Na capoeira, como não poderia deixar de ser, o atabaque se
fez presente nos primórdios do jogo. Instrumento que, quando bem tocado, fornece
uma beleza maior às baterias, aparece com freqüência nas rodas de capoeira como
instrumento de marcação do ritmo estabelecido pelo berimbau. Uma exceção surge
nas vadiações dos capoeiras que seguem "à risca" os ensinamentos de
mestre Bimba, dentre os quais a não utilização do atabaque.
Mesmo que alguns pesquisadores afirmem que a
utilização do tambor na capoeira não teve uma continuidade histórica, e que o
atabaque foi introduzido na capoeira recentemente, talvez por Mestre
Canjiquinha, com todo o respeito, considero improvável tal fato. Mestre Bimba,
retirando o atabaque da sua bateria antes da década de 30 do século passado, só
poderia ter tomado tal decisão se o atabaque estivesse presente na capoeira.
Além disso, não desmerecendo os recursos e a criatividade do mestre da alegria,
Mestre Canjiquinha nasceu em 1925, o que nos leva a concluir, após uma análise
de datas, que seria muito improvável que o mesmo tivesse sido o responsável
pela inserção do atabaque na capoeira
PANDEIRO
Muito difundido e utilizado por diversos povos, o
pandeiro é considerado um instrumento muito antigo, encontrado na Índia e até
junto aos egípcios (1700 a.C.), com função de instrumento marcador de ritmo e
acompanhamento. Da cultura árabe surge o adufe, que é um pandeiro
quadrado sem platinelas.
A maior parte dos estudos aponta para chegada do
pandeiro ao Brasil por via portuguesa. Inclusive existe registro que esse
tambor já estaria presente na primeira procissão de Corpus Christi, realizada
na Bahia, a 13 de junho de 1549. Fato esse que reforça a hipótese da chegada do
pandeiro em navegações portuguesas para o Brasil, uma vez que a mão de obra
escrava utilizada em maior quantidade nessa época era indígena. Com o passar do
tempo, o instrumento foi absorvido pelos negros que passaram a utilizá-lo em
suas manifestações culturais no Brasil.
Na capoeira, o pandeiro trabalha na marcação do
ritmo estabelecido pelo berimbau. Na maioria das rodas de capoeira, o pandeiro
utilizado possui pele de couro animal, tornando-se assim menos estridente.
Inclusive, existem relatos de que Mestre Bimba retirava algumas platinelas do
instrumento, tornando o som ainda mais grave, o que ele considerava o tambor da
Regional. Em recente texto sobre instrumentos musicais, o amigo Miltinho
Astronauta cita o cuidado que alguns capoeiras têm com seus instrumentos, como
o saudoso Mestre Cosmo tinha com a afinação dos pandeiros. Segundo o mestre, os
pandeiros deveriam ser afinados no tempo... no sereno, e tocados em pares, onde
um marcava o passo e o outro se soltava no solo.
AGOGÔ
Instrumento
musical formado por dois cones metálicos unidos por um arco também de metal, o
agogô é outro instrumento muito presente na cultura afro-brasileira. Sua
entrada no Brasil aconteceu com a chegada dos negros africanos. Inclusive o
vocábulo agogô é de origem nagô e significa sino. Assim como no caso do
reco-reco, sua aparição inicial nas baterias de capoeira ocorreu,
possivelmente, através dos mestres Pastinha e Canjiquinha.
Presente em diversas danças e ritmos da cultura
popular, sua maior participação é muito comum no samba e nos terreiros, nas
cerimônias religiosas afro-brasileiras.
RECO-RECO
Instrumento
comumente feito de um gomo de bambu, ou até mesmo uma cabaça alongada, com
sulcos e tocado com uma vareta. Também aparece em construção de metal contendo
molas ao invés de sulcos, como pude assistir em roda de mestre Curió. Acredita-se
na sua origem africana, uma vez que sempre esteve ligado às manifestações
afro-brasileiras. Atualmente, se mostra presente principalmente no samba, mas
também empresta seu ritmo à outros folguetos como o lundu e até mesmo o reggae.
O reco-reco históricamente parece ter sido introduzido na capoeria através do
Centro Esportivo de Capoeira Angola de mestre Pastinha. Hoje em dia aparece em
muitas rodas dando sua contribuição na marcação do ritmo do jogo. Segundo
Miltinho Astronauta, Mestre Gato Preto, um dos organizadores da Capoeria Angola
no Vale do Paraiba, introduziu uma forma diferente de se dar início à bateria.
No caso, o reco-reco inicia tocando, para só então, depois da assistência
perceber que o ritual está sendo iniciado, é que o Berimbau inicia o toque de
Angola, seguido pelo São Bento Grande, Angolinha (no Viola) e demais
acompanhamentos. Mas em outros trabalhos também orientados por Mestre Gato
Preto isto não acontece, ou seja, quem começa tocando sempre são os três
berimbaus, e o reco-reco
Nenhum comentário:
Postar um comentário